FIGURAS E MOVIMENTOS. UMA LEITURA DA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA (I)
From: 2017-09-19 To:2017-09-19
Thematic Line
Modern & Contemporary Philosophy
Research Group
Mind, Language & Action
SEMINÁRIOS MLAG
1º SEMINÁRIO
Figuras e Movimentos
Uma leitura da filosofia contemporânea (I)
Sofia Miguens (Instituto de Filosofia/Universidade do Porto)
19 de setembro 2017 | 16h30
Sala do Departamento de Filosofia (Torre B - Piso 1)
Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Entrada Livre
A elaboração de qualquer percurso pela filosofia contemporânea confronta-se com o carácter problemático da própria noção de filosofia contemporânea. No caso da filosofia antiga, da filosofia medieval ou da filosofia moderna podemos simplesmente considerar que elas são representadas por autores como Platão ou Aristóteles, Anselmo de Cantuária ou Tomás de Aquino, Descartes, Hume ou Leibniz. Se queremos ter uma noção dos problemas e das teses em causa não nos enganaremos muito se os procurarmos. As obras destes autores, as suas questões e as suas posições, mostram-nos em concreto aquilo que podemos esperar da filosofia antiga, da filosofia medieval ou da filosofia moderna. Os contornos da filosofia contemporânea são bem mais difíceis de traçar. Como poderemos orientar-nos por entre autores como E. Husserl, M. Heidegger, J.-P. Sartre, M. Merleau-Ponty, E. Lévinas, H. G. Gadamer, P. Ricoeur, M.Foucault, J. Derrida, T. Adorno, W. Benjamin, H. Arendt, G. Deleuze, J.L. Nancy, J. Rancière, G. Agamben, S. Zizek, A. Badiou, G. Frege, B. Russell, L. Wittgenstein, G. E. Moore, W.V.Quine, J.L. Austin, H. Putnam, N. Goodman, D. Davidson, M. Dummett, J. Searle, J. Rawls, R. Rorty, S. Kripke, C. Diamond, T. Williamson, J. McDowell, S. Cavell, E. Anscombe ou D. Parfit? Como poderemos orientar-nos por entre termos como fenomenologia, filosofia analítica, existencialismo, pragmatismo, feminismo, pós-modernismo, nietzscheanismo, particularismo, cognitivismo, naturalismo, materialismo ou anti-representacionismo?
Quase todos os autores referidos acima são autores do século xx, alguns estiveram, ou estão, vivos no século XXI. Poder-se-ia por isso tentar um projecto supostamente neutro: o projecto de fazer uma ‘História da Filosofia do século XX’, ou de mapear as ‘Tendências da filosofia no século XX’. Mas a verdade é que a periodização ela própria é também polémica. Afinal, por que não havemos de chamar contemporâneo estritamente e apenas àquilo que se faz agora, na segunda década do século XXI, em filosofia, e apenas a isso? Porquê recuar até aos inícios do século XX, ou aos fins do século XIX? Ou mesmo recuar ainda mais – de uma forma que deixa incrédulos sobretudo os filósofos de língua inglesa-, recuar, como proporei que se faça, aos finais do século XVIII, nomeadamente à obra de Kant ou ver em Hegel e nos seus críticos (como Marx, Kierkegaard ou Nietzsche) um núcleo essencial para compreender a filosofia contemporânea?) Por quê sequer recuar, e não fazer apenas, por exemplo, um mapa, por disciplinas, da filosofia que neste momento se faz?[1]
Uma das vantagens de recuar no tempo é a possibilidade de compreender, por esse meio, uma divisão que pode parecer definitiva e que caracteriza a filosofia contemporânea. Trata-se de um quase abismo actualmente existente entre tradições filosóficas, entre formas de fazer filosofia, um abismo que não existiu noutras épocas da história da filosofia. Esse abismo separa as chamadas tradição analítica e tradição continental. (Sofia Miguens)
[1] Essa é de resto uma opção muito pertinente, e é por exemplo a opção em Pedro Galvão (coord), A Filosofia por Disciplinas. Retrata-se aquilo que se faz neste momento quando se faz lógica, metafísica, epistemologia, ética, filosofia política, filosofia da religião, filosofia da ciência, filosofia da linguagem, filosofia da mente, filosofia da acção, estética e filosofia da arte.
Imagem: Eileen Agar, Slow Movement (1970). National Galleries of Scotland
Organização:
Research Group Mind Language and Action Group (MLAG)
Instituto de Filosofia da Universidade do Porto - FIL/00502
Financiamento: FCT